Uma ossada é encontrada em um canteiro de obras na cidade Gwangju nos dias atuais e a suspeita é que seja de alguém que participou do maior conflito político da Coreia do Sul em maio de 1980. Esse flashforward (visão do futuro) ficcional é a cena de abertura do melodrama romântico do KOCOWA, “Youth of May”, que é baseado em fatos reais. Estrelado por Lee Do Hyun, Go Min Si, Lee Sang Yi, Keum Sae Rok e Oh Man Seok, o k-drama já está completo e disponível em 12 episódios.
Confira o trailer:
Mas sobre o que é essa história real?
De maneira bem resumida: entre 18 e 27 de maio, a população de Gwangju se voltou contra o governo autoritário que havia tomado o país com a Lei Marcial, um sistema que dava poder total aos militares. A revolta começou com protestos estudantis pacíficos e terminou afetando a todos, deixando centenas de feridos, mortos e desaparecidos devido à violência da polícia ordenada pelo então presidente ditador Chun Doo Hwan.
Atos Humanos, por Han Kang
O Massacre de Gwangju, ou Movimento Democrático de Gwangju e Revolta de Gwangju, tornou-se internacionalmente conhecido em 2017 com o livro Atos Humanos, de Han Kang, escritora best-seller sul-coreana natural de Gwangju e famosa pelo premiado romance A Vegetariana, vencedor do Prêmio Internacional Man Booker em 2016.
Han Kang tem descrições viscerais e cruas, unindo realidade e ficção às suas breves lembranças da infância e à memória familiar e coletiva para remontar os dias do massacre pela visão de vários personagens diferentes em cada capítulo do livro, culminando com a perspectiva dela mesmo, nesta obra semiautobiográfica.
Mas o evento é forte na memória da agora República da Coreia, e pela primeira vez está sendo contado em um drama de TV exibido globalmente.
Youth of May
Dramas coreanos de época costumam contar histórias, baseadas na realidade ou não, de reinos e dinastias há milênios e centenas de anos. Alguns títulos recentes, como “Mr. Sunshine” e “Different Dreams”, abordam a década de 1930. Mas relembrar a história de apenas 41 anos no passado é novidade nos k-dramas, e “Youth of May” oferece uma visão cotidiana de um mês sangrento, um dos mais brutais da Coreia do Sul antes da chegada da tão sonhada democracia.
O jovem elenco principal do k-drama, apesar de sequer ter vivido essa época, interpreta com maestria as dores da juventude de maio de 1980. Assim como o livro Atos Humanos, “Youth of May” reimagina a vida comum de pessoas que se viram envolvidas no conflito político enquanto apenas tentavam sobreviver. Jovens apaixonados e cheios de sonhos. Crianças, estudantes, trabalhadores, pobres e ricos. Inúmeras famílias afetadas, fossem essas a favor ou não do governo autoritário.
“Youth of May” é baseado em “May’s Run” (Corrida de Maio, em tradução livre), livro infanto-juvenil publicado em 2013 na Coreia. A publicação é originalmente apenas sobre Myung Soo, um estudante do ensino fundamental selecionado para representar a região de Jeolla-do no atletismo no Festival Nacional de Esportes Juvenis e que se preparava no dormitório de Gwangju. O roteirista acrescentou a história da irmã mais velha de Myung Soo, Myung Hee (interpretada por Go Min Si), e adaptou isso para o melodrama de TV.
O Motorista de Táxi
Outra obra famosa que abordou a revolta de Gwangju foi o filme O Motorista de Táxi, lançado em janeiro de 2018 no Brasil e estrelado pelo premiado ator de Parasita, Song Kang Ho, sobre um taxista que leva um repórter alemão de Seul para Gwangju sem saber o que estava acontecendo e acaba participando da cobertura do trágico acontecimento.
Trailer:
Uma minissérie, um livro e um filme. Três histórias diferentes para nos lembrar do que não podemos jamais deixar acontecer novamente. O que será que a nova perspectiva de “Youth of May” agrega a esse momento histórico? Assista já e descubra!
Fontes: (1)