No Brasil, o voto é obrigatório, porém em países como Coreia do Sul e Estados Unidos, ele não é. Há países em que participar das eleições é opcional. Isso aumenta mais ainda o esforço de um candidato durante uma campanha eleitoral, porque ele não só precisa convencer pessoas a votarem nele, mas a votar. O desinteresse pela política é grande, e isso está claro em “Into the Ring”, k-drama tema desta resenha de primeiras impressões. Uma comédia política guiada por uma heroína igual a muitos, desinteressados pelo assunto, e esse é o “pulo do gato” — Goo Se Ra (Nana) representa a visão que muitos de 20 a 30 anos têm sobre política, e por isso nos identificamos e torcemos por ela.

Goo Se Ra é uma personagem tão boa e bem escrita que eu queria tê-la criado. Ela é uma designer de 28 anos que mudou de emprego incontáveis vezes e não sabe o que quer da vida, enquanto a sociedade está exigindo resultados dela, porque o jovem é o futuro, e o jovem adulto é o agora, é o mercado de trabalho e a formação de novas famílias. Goo Se Ra não tem grandes ambições e perspectivas, ela só quer sobreviver seguindo sem saber para onde vai o dinheiro de seus impostos. Você conhece alguém assim? Aposto que sim. Desempregada novamente, ela decide entrar na política apenas por causa do salário de vereador — muito dinheiro, pouco trabalho.

Do outro lado da arena política está Seo Gong Myung (Park Sung Hoon), o interesse romântico da protagonista, um servidor público que foi rebaixado de cargo por dizer a uma superior que o uso de dinheiro público não ia bem naquele distrito. Um excluído no trabalho, péssimo com interações sociais. No entanto, ele entende como funciona a administração política, ao contrário de sua amiga de infância Goo Se Ra, que sequer irá reconhecê-lo de primeira. A ligação deles não é algo “jogado” na história para manter o clichê de k-dramas, esse é dos bem feitos, já que a relação das famílias dos dois definem muitos conflitos da trama. Conexões essas que são surpreendentes no segundo episódio.

Essas duas pessoas muito diferentes criam uma ótima e divertida dinâmica de se assistir, em meio a uma trama política que vai do cômico absurdo a mistérios de assassinato. Apesar da descrição que fiz antes de Goo Se Ra, ela é tudo, menos indiferente. A designer é famosa na ouvidoria do distrito por ser a pessoa que mais enviou reclamações durante 14 anos, ela dedicou metade de sua vida a expor problemas do lugar onde nasceu e viveu. Se Ra não suporta ver injustiças, por isso perdeu todos aqueles empregos dos quais falei antes, ela é incontrolável e impulsiva.

O que faz de Se Ra uma personagem tão cativante é que ela não entende de política, entrou nisso puramente por interesses pessoais e individuais, o que soa desonesto e ordinário, entretanto, por ser uma pessoa muito comum, ela sabe do que seus iguais precisam. É o ponto de vista dela na história que simplifica para nós todo o panorama político coreano que em outras situações acharíamos complicado.

Nana já havia feito mais de uma personagem metida a valentona e esperta, mas nada se compara a como ela se entregou completamente à interpretação de Goo Se Ra, nos passando todas as nuances, intensidade e a ambiguidade da jovem mulher que se elege vereadora numa campanha eleitoral difícil e imprevisível que me fez chorar praticamente o episódio 3 inteiro do drama, de tão emocionante. Tudo em meio a uma direção de fotografia inteiramente filmada em lentes grande angular (que dão aquela imagem larga e distorcida) e supercloses constantes no rosto do elenco, com uma trilha sonora de rock e eletrônico irresistível ao fundo. “Into the Ring” é viciante e tem meu coração com quatro episódios, e Goo Se Ra tem o meu voto.

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