Eu estudei jornalismo, e durante a graduação temos algumas disciplinas obrigatórias de rádio. Em algumas universidades é possível encontrar até cursos de comunicação especializados apenas em radialismo. Além do fato de eu, assim como milhares de brasileiros, ter crescido ouvindo ao rádio. Mas imagine uma série de TV — no meu caso, um drama coreano — te fazer gostar mais de algo que você conhece e estudou do que qualquer aula, professor ou rádio local. Na verdade, isso é até bem comum, né? Histórias têm esse poder. E foi o que aconteceu comigo ao assistir “Radio Romance” em 2018, ano de seu lançamento.
“Radio Romance”, até o momento, é um ponto fora da curva na carreira de seus protagonistas, a atriz Kim So Hyun e o ídolo Yoon Doo Joon. A jovem So Hyun, veterana das telas, é conhecida por seus papéis em dramas escolares e históricos, então estamos bem mais acostumados a vê-la vestindo um uniforme escolar ou trajes de época. Contudo, neste melodrama, nossa menina prodígio interpreta uma mulher adulta que sonha em ser escritora de rádio — a determinada Song Geu Rim quer inspirar as pessoas com os seus programas, através de roteiros que, a princípio, ainda não existiam. O que pode mudar quando, após anos sofrendo como assistente, ela finalmente recebe a oportunidade de provar o seu valor como escritora principal de um novo programa de rádio.
Para isso, ela precisa convencer o (aqui também) ídolo Ji Soo Ho (Yoon Doo Joon) a ser o DJ da nova atração, a pedido do seu excêntrico produtor Lee Kang (Yoon Park). Sim, isso de certa forma vira um triângulo amoroso, mas se você é um dos que odeia esse clichê, pode ficar tranquilo, em “Radio Romance” não perdem muito tempo com isso. Felizmente, o drama gasta mais tempo no romance principal e na dinâmica de produção do rádio do que em certos clichês irritantes.
Acredite, você vai se irritar mais com a atriz mirim decadente Jin Tae Ri (Yura) e querer fazer o cancelamento dela no k-drama. Além dela, temos outro coadjuvante que vale mencionar, e um que eu gostaria que tivesse tido mais espaço no drama — o jovem ator que conheci em “Radio Romance”, Kwak Dong Yeon, que interpreta o amigo médico (e misterioso) do protagonista. Não entendo por que, mas sempre o colocam em papéis mais velhos, espero que seja pelo talento precoce que ele tem. Merecidamente, sua agenda de dramas vem sendo movimentada desde que esse saiu ano passado. Ele estrelou depois alguns como “My ID is Gangnam Beauty” e “My Strange Hero”, e está no ar agora em “Never Twice”, dessa vez como protagonista.
Se você já gosta do Doo Joon cantando no grupo Highlight ou de sua versão comilona nas três temporadas de “Let’s Eat”, recomendo muito assistir a “Radio Romance” e ver o ídolo bem diferente do que você está acostumado. Yoon Doo Joon surpreende com uma atuação excelente sendo o astro Soo Ho, um ídolo que, assim como tantos outros, vivia de aparências, por mais perturbada que seja sua vida real e família.
Soo Ho é adotado e possui um sério trauma de infância envolvendo um amigo, detalhes que, somados a um constante abandono afetivo por parte de sua família e a pressão da fama, culminaram num diagnóstico de depressão para ele. Depressão esta que terá um tratamento diário ainda mais eficaz quando ele se juntar à turma do rádio, mesmo que relutante a princípio. O chato e fechado Soo Ho continuará o rabugento que é, até o final do drama, mas se tornará um chato menos solitário. Em “Radio Romance”, Doo Joon nos passa muitas emoções apenas com o olhar, e nesse personagem melancólico, ele está irreconhecível se você o conhecia apenas por “Let’s Eat” — é uma bela diferença para confirmar o talento dele também como ator.
Na história, Soo Ho e Geu Rim se conhecem desde a infância, aquele clichê tão comum para nós, fãs de dramas coreanos, mas aqui isso não é um segredo que será desvendado tardiamente. Eles se lembram um do outro desde o começo e será a primeira ligação entre os dois para desenvolver um romance maduro. Porém, entre triângulo amoroso e conhecidos da infância, não há clichê mais difícil de engolir em “Radio Romance” do que o da mãe megera, esse sim, me dava raiva!
Por mais que o romance do título pareça referir apenas as relações românticas do drama, nada me tira da cabeça que isso também poderia ser pela capacidade que essa história tem de nos fazer apaixonados pelo rádio. O rádio é muito popular em países como Estados Unidos e Coreia do Sul, porque ainda é um meio de comunicação essencial para uma série de conteúdos e divulgações musicais. Tanto que é normal estarmos assistindo a um k-drama e, de repente, surgir uma cena ou entrevista no rádio. A diferença de “Radio Romance” é que ele se desenvolve completamente neste cenário, um estúdio de rádio e as aventuras das pessoas que fazem esse meio de transmissão acontecer. E é muito encantador assistir a isso com o jeito coreano de contar histórias, o clima otimista e quase de mundo mágico que conhecemos — a dramaland.
Nos atuais tempos sombrios que vivenciamos na indústria do k-pop, é acolhedor me lembrar da maneira humana como este drama tratou da depressão para um famoso. “Radio Romance” enfatiza a importância de pedir e receber ajuda, de como não podemos resolver tudo sozinhos e precisamos do apoio daqueles que amamos e confiamos, e a sorte de encontrar pessoas que possam te oferecer isso. Soo Ho, Geu Rim e PD Kang encontram a cura no rádio.
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