Clássico do mês: My Love From the Star (Portuguese)

Há seis anos, nesta mesma época do ano, estava em exibição na Coreia do Sul um dos dramas fundamentais da onda Hallyu na década de 2010: “My Love From the Star”, a fantasia romântica que foi um marco dos dramas coreanos. Sucesso de audiência, fomentador de uma revolução publicitária para o entretenimento sul-coreano e clássico que é referência para hits que vieram depois, como “Goblin” e “Angel’s Last Mission: Love”. Afinal, foi com o amor das estrelas que vimos uma grande popularidade para o tipo de protagonista que vagava há muito tempo pela Terra, e foi assim também que ganhamos uma das heroínas de k-dramas mais memoráveis de todos os tempos.

Protagonistas icônicos

Jun Ji Hyun merece ser amada (ela é, muito), e “My Love From the Star” tem todo o direito do universo (literalmente) de ser um clássico, muito por causa de sua protagonista única. Mesmo que a coestrela fosse de outro planeta, Ji Hyun, que é inacreditável e rouba o drama para si inúmeras vezes. Eu amo heróis de doramas diferentes assim, eles são raros numa dramaland em que protagonistas costumam ser mais contidos sofrendo em silêncio. 

Chun Song Yi brilha mais do que uma estrela, ela que muitas vezes era arrogante e insuportável, também é corajosa, hilária, amável e inspiradora. Song Yi tem um tipo de sinceridade irresistível, e ela sabe o quanto é poderosa, ao mesmo tempo que nos passava uma vulnerabilidade comovente e era tão “gente como a gente”, seja escrevendo suas próprias fanfics, lendo seus quadrinhos e tendo uma noite insana de bebedeira (que me fez gritar de rir, quantos memes!).

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Esta história é praticamente uma metalinguagem da realidade da atriz, a veterana do cinema estava há 14 anos sem fazer dramas na TV quando aceitou o papel, que inicialmente ela não queria. Ela foi convencida pela produção do drama e pelo colega de trabalho Kim Soo Hyun, eles já haviam contracenado juntos antes no filme “The Thieves”. Eu sou eternamente grata por eles terem feito isso, eu não conseguiria imaginar este drama sem ela.

Jin Hyun faz um trabalho que é indissociável dela, Chun Song Yi provavelmente jamais seria a mesma sem todos os nuances que apenas ela consegue dar à personagem. Por isso, nada mais justo a atriz ter levado para casa em 2014 os prêmios mais importantes da TV — o Daesang (Grande Prêmio) no Baeksang Arts Awards e no SBS Drama Awards.

Contudo, é claro que ela precisava de alguém à altura, e naquela época o ainda jovem Kim Soo Hyun mostrou mais uma vez que era um par perfeito para Ji Hyun também nas telinhas. Por mais que seu protagonista tivesse mais de 400 anos na Terra, Kim Soo Hyun tinha apenas 24 anos! Foi praticamente um noona romance, se julgássemos pelas idades reais dos atores, já que Ji Hyun é 7 anos mais velha do que ele.

Com seu talento precoce, Soo Hyun consegue acertar o tom e dar a profundidade necessária ao alienígena tsundere e antiquado, quase como uma versão mais cômica e documental do “Goblin”. Documental porque Do Min Joon “quebrava a quarta parede” e dava depoimentos sinceros (ou inocentes e divertidos) olhando diretamente para câmera, e esses são alguns dos melhores momentos do drama.

Ao contrário do Goblin de 2016, o alienígena de 2013 (frequentemente confundido com um goblin em sua história) não distribui bênçãos e evitava ajudar os outros, já que as pessoas iam da gratidão ao medo por ele. Para o homem das estrelas, a noção de tempo, espaço e sentimentos era bem diferente das pessoas comuns, como costuma ser com personagens centenários de fantasias em geral, porém essa é uma essência difícil de captar, e acredito que poucos atores conseguem com maestria.

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A mistura de um homem que não se envolve com uma mulher que dá tudo de si gerou uma química perfeita. Chun Song Yi é tão forte quanto um alien quando se trata de determinação, e é ótimo assistir àquele “super-homem” ceder a ela. Mesmo que ele desmaiasse a cada beijo por não poder fazer isso, o drama é cheio de beijões cinematográficos de respeito! Algumas das cenas mais bonitas e inovadoras tecnicamente foram de beijos do casal. Além de Do Min Joon fazer uma das declarações mais bonitas que veremos em k-dramas.

Não gosto muito da resolução final deles (mas pelo problema recorrente de fantasias terminarem confusas e em aberto), mas “My Love From the Star” tem um romance saudável. Felizmente (ou infelizmente), de tóxico nele só a mídia, os fãs lunáticos e as agências de entretenimento, nada muito diferente da realidade cruel.

Uma história interessante por completo

Não há coisa que me canse mais num drama do que não gostar também das outras tramas, independente do romance e afins, e isso não é um problema em “My Love From the Star”. A única coisa que ainda é terrível é o penteado do vilão interpretado por Shin Sung Rok, risos. Mas ele está tão bem como Lee Jae Kyung, é um psicopata tão odioso, que o cabelo feio vira um mero detalhe.

Falando em psicopatas, depois de assistir a esse clássico eu entendo menos ainda porque nos anos seguintes só colocaram o Park Hae Jin para personagens malvados. Gente, ele sabe muito bem fazer um mocinho! Em “My Love From the Star”, Park Hae Jin é um secundário dedicado e amoroso, mas apesar de parecer que, como todo friendzone, ele ficaria apenas na órbita da protagonista, neste caso, o coadjuvante cresce tanto na história que é uma peça fundamental na segunda metade do drama. Inicialmente ingênuo, Lee Hui Kyung na reta final é tão digno e heroico quanto o alienígena principal, e o rico herdeiro usa as leis terráqueas para derrubar o vilão — seu próprio irmão —, tornando-se um dos meus secundários favoritos.

O que não orna em nada é o romance de Hui Kyung e Yoo Se Mi (Yoo In Na), que nem chega a acontecer. In Na realmente não tem sorte em romances de fantasia, ela que esteve em dois clássicos do tipo, este e depois em “Goblin” (mas neste último com um romance arrebatador). É interessante notar como “My Love From the Star” alavancou a carreira de todo o elenco, muitos se consolidaram depois, até Ahn Jae Hyun, que era bem jovem na época e atuou como o irmão mais novo de Jun Ji Hyun.

Impacto cultural e curiosidades

Da mesma roteirista de “The Legend of the Blue Sea” e o atual “Crash Landing on You”, “My Love From the Star” foi um marco mercadológico na Hallyu, das mais diversas formas. Além dos altos índices de audiência, de ter arrastado um monte de prêmios com o elenco e aquela trilha sonora maravilhosa e grudenta de cantar no chuveiro para sempre, o drama coreano esgotou marcas de batons usados pela protagonista e levou a busca intensa por originais Jimmy Choo e réplicas de todo o figurino impecável de Chun Song Yi. Nem o frango e o miojo que ela comia escaparam, as comidas se tornaram uma febre ainda durante a exibição do k-drama, até na China!

“My Love From the Star” foi um divisor de águas quando falamos de product placement, a inserção de publicidade na narrativa, mesmo quando isso não era a intenção. O livro que Do Min Joon (Kim Soo Hyun) leu constantemente no drama — “A extraordinária jornada de Edward Tulane” — virou um best-seller e esgotou nas livrarias. Até os cenários do drama ganharam depois uma exposição especial contendo cópias perfeitas dos cômodos inspiradas nos dois prédios de luxo usados como locação, Dongdaemun Design Plaza & Park (DDP) e Boutique Monaco.

Dentre as inovações tecnológicas, “My Love From the Star” foi a primeira série de TV a ser filmada totalmente com câmeras HD na Coreia do Sul. Destaque para todos os momentos de câmera lenta quando Do Min Joon parava o tempo e as cenas de teletransporte, os efeitos especiais do drama não devem em nada para superproduções de cinema! Efeitos como bullet time foram utilizados e 60 câmeras GoPro foram instaladas em 180 graus para “congelar” pessoas e filmá-las de vários ângulos, como a impressionante sequência do tapete vermelho no último episódio, que foi uma montagem de vários pequenos detalhes depois organizada e aumentada digitalmente.

Jun Ji Hyun inesquecível, roteiro e elenco competentes que fazem jus à estrela principal, uma revolução de consumo e tecnologia, memes, cenas e músicas marcantes. Mesmo eu tendo assistido “My Love From the Star” em 2019 e com tantas histórias de fantasia similares que eu vi antes (mas foram lançadas depois desse clássico), para mim este k-drama resistiu muito bem aos anos, o que ele tem de melhor permanece intacto no espaço-tempo e me mostrou sem esforço porque é um clássico que foi mesmo coisa de outro mundo em sua época.