Com quatro episódios lançados (até a publicação desse texto), o novo suspense da SBS, “Nobody Knows”, mantém ótimas audiências desde sua estreia, alcançando até 9.5% em sua última transmissão. O drama merece os números, e eles ainda podem crescer se a história continuar com a qualidade que vi até agora. Estrelado por Kim Seo Hyung e Ryu Deok Hwan, ele vai te lembrar muitas coisas que você já viu antes na dramaland, mas ao mesmo tempo é único a sua maneira, como vou explicar nessa resenha com primeiras impressões.

“Sky Castle” (também com Kim Seo Hyung) pelo tom mais cruel focado em adolescentes, “Mother” pela figura materna que não é a mãe biológica da criança, “Save Me” por conter seitas religiosas e “Beautiful World” pela tragédia violenta com um garoto, estes são alguns dos dramas coreanos que eu me lembrei ao começar a assistir “Nobody Knows”. Eu iria ainda mais longe, na literatura — “Nobody Knows” me lembrou até o livro “Os homens que não amavam as mulheres”, da trilogia Millennium do escritor sueco Stieg Larsson, pelos crimes de cunho bíblico que permeiam a trama, que conta a história de uma investigadora consumida pela culpa que dedicou a carreira profissional e a vida inteira em busca do assassino de sua melhor amiga e de outras sete mulheres jovens.

Mesmo com todas essas referências, que talvez sejam inspirações ou não, “Nobody Knows” tem personalidade própria. Direção, elenco, cinematografia e roteiro trabalham bem juntos para isso, no pouco que pude observar em quatro capítulos sobre a série de “assassinatos dos estigmas”.

<strong>Os protagonistas a inspetora Cha Young Jin Kim Seo Hyung em destaque o estudante Ko Eun Ho Ahn Ji Ho desfocado na frente e o professor Lee Sun Woo Ryu Deok Hwan atrás <strong>

Os dois primeiros episódios são mais intimistas e estão interessados em nos apresentar as relações mais importantes de “Nobody Knows”a inspetora Cha Young Jin (Kim Seo Hyung), o estudante Ko Eun Ho (Ahn Ji Ho) e o professor Lee Sun Woo (Ryu Deok Hwan). Por isso talvez você sinta o início mais lento, contudo, a introdução é importante para nos deixar realmente preocupados e ansiosos com os intensos acontecimentos dos episódios seguintes, 3 e 4, quando tudo começa a ficar realmente insano e você não vai confiar em quase mais ninguém nessa história.

Young Jin e Eun Ho tem uma relação bonita e cativante, que começou de maneira nada feliz, com a policial prendendo em flagrante um namorado violento da mãe do garoto, enquanto o homem batia nela. É a protagonista que tem um instinto protetor mais forte em relação ao garoto, e Eun Ho, que tem uma mãe negligente, logo se aproxima de Young Jin e cresce a tendo como a verdadeira figura adulta e materna de confiança. Ele acaba se parecendo em personalidade mais com a investigadora do que com a própria mãe biológica. Tanto que seu professor os confunde como mãe e filho quando os vê juntos na rua, por acaso.

A metáfora visual que eu mais gosto sobre a relação fraternal dos dois é a varanda do apartamento de Young Jin, repleta de verde e que Eun Ho cuida regando as plantas, porém quando se conheceram, o espaço tinha apenas um jarro. Como se víssemos a relação dos dois resumida na vida, crescimento e beleza daquela varanda. Além da cenografia, “Nobody Knows” tem uma direção de fotografia e edição de vídeo que direciona o impacto da narrativa aos personagens, através de closes e supercloses no rostos dos protagonistas, sempre em momentos de catarse e decisão.

Mesmo que o roteiro inicialmente nos lembre outros dramas sobre crianças em situações de risco, “o pulo do gato” para que “Nobody Knows” seja único é a maneira como ele fala sobre seitas religiosas. Cultos perigosos para jovens vulneráveis e que se tornam ainda mais assustadores quando percebemos que eles podem se infiltrar na sociedade de forma normalizada, por meio de instituições como orfanatos e escolas. É um problema que não percebemos, um inimigo que não vemos, disfarçado pela fé e solidariedade.

Por mais que pareça exagero da ficção atrelar isso a uma trama de serial killer, não está muito distante da realidade coreana, em que um dos principais propagadores do coronavirus (COVID-19) na cidade de Daegu neste começo de 2020 foi uma polêmica igreja chamada Shincheonji. O culto é liderado por Lee Man Hee, um homem que se diz o “novo Jesus”, a segunda vinda do filho de Deus, mas a Shincheonji está sendo investigada pela promotoria da Coreia do Sul por possíveis acusações de homicídio. Não, isso não é plot de dorama, é o mundo real. 

Há tempos que falsos messias são uma questão para coreanos, logo, “Nobody Knows” parece tão inspirado na realidade quanto “Sky Castle” foi sobre o sistema educacional. E observando o sucesso de estreia do drama, é um tema muito atual que o público do país parecia ansioso para conversar.

Acompanhe a investigação de Kim Seo Hyung toda semana com legendas em português no KOCOWA!

Fontes: Nielsen Korea, NY Times, The Korea Herald.

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